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Matteo sustentou o olhar dela por um instante longo demais, os olhos escuros parecendo pesar cada palavra dita. A sinceridade de Scarlet não o surpreendia — ele sempre soube que, para ela, ele era pouco mais que uma lembrança apagada. Mesmo assim, alguma parte dele, pequena e teimosa, se encolheu diante da confirmação crua. Ele passou a língua pelos lábios, num gesto distraído, e soltou um suspiro baixo, quase um riso sem força. A mão subiu até a nuca, bagunçando os cabelos antes alinhados para o sermão. Matteo olhou para o chão, para as rachaduras no cimento, como se ali encontrasse a única resposta verdadeira.
Quando falou, a voz saiu rouca, arranhada pelas coisas que não dizia. "Não muda nada, Scarlet," deu de ombros, mas o movimento era mais pesado do que queria deixar transparecer. "Só achei… que talvez fosse menos insuportável. Pra todo mundo," ergueu o olhar de novo, a expressão cansada, mas havia uma ponta de desafio ali, algo quebrado e orgulhoso demais para se render completamente. Ele estava cansado de todos eles agindo uns contras os outros — não era como se ele quisesse estar naquela situação.
"E não, não tô esperançoso. Nem burro a esse ponto." A boca puxou um sorriso torto, sem humor. Ao contrário do que todos achavam, Matteo não era esse nível de burro — não confiava cegamente naquele grupo. Ele precisava fazer o que podia se quisesse chegar na verdade. "Bem, talvez seja melhor parar de tentar achar lógica nas coisas." Matteo enfiou as mãos nos bolsos da calça, balançando o corpo levemente para trás como se se preparasse para se afastar. Mas ficou parado ali, preso numa linha invisível que ele mesmo não conseguia atravessar.
Matteo já tinha certeza de duas coisas — primeiro, definitivamente não queria estar ali. Segundo, definitivamente não ia conseguir sair agora. Matteo não lembrava de ter aceitado participar da brincadeira, mas lá estava ele. Sentado, fone de ouvido nos ombros, tentando entender em que momento deixou de controlar o próprio caminho naquela noite. Provavelmente no instante exato em que os olhos dele cruzaram os dela — e Scarlet, com o típico jeito dela, simplesmente não se importava se ele queria estar ali ou não. Com a falta de som ao seu redor, o mundo inteiro parecia suspenso. Scarlet estava à sua frente, e Matteo se forçou a respirar mais fundo do que precisava. A decoração da sala parecia mais quente do que o normal, com as luzes em tons de vermelho e dourado transformando o ambiente num lugar claustrofóbico demais para alguém que andava evitando até os próprios espelhos.
Ela articulou algo com os lábios. Devagar. Clara. Precisa. Matteo deveria estar prestando atenção. Mas tudo nele se fixou na forma como ela movia a boca — no contorno perfeito, no leve brilho do batom que parecia recém-retocado, na forma como ela dizia cada palavra como se fosse uma sentença. Matteo sentiu o ar preso no peito. Um calor estranho subiu pelo pescoço, e não era só pela iluminação ou pela proximidade. Era a forma como ela dizia aquilo. A forma como os olhos dela não recuavam.
Ele piscou, tentando retomar o controle. Tentando se lembrar de que era só um jogo idiota com frases aleatórias. Mas não soava aleatório. Tirou um lado do fone com a ponta dos dedos. A voz saiu mais baixa do que esperava, “que tal tentar algo mais inofensivo? Uma palavra?” Porque ele estava confuso se estava entendendo aquilo como uma palavra ou uma provocação. Colocou o fone de volta antes que ela pudesse responder, como se precisasse se proteger da resposta. Mas o estrago já estava feito. Ele ainda sentia o calor dos próprios pensamentos queimando sob a pele.
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Mais uma dinâmica na qual não queria participar mas se sentia ao menos na obrigação de tentar. Não era a pessoa mais divertida, nem a mais animada para esses jogos, ainda mais com toda aquela decoração romântica a sua volta que quase parecia a sufocar.
Mas antes que cogitasse sair dali, avistou a imagem familiar e se aproximou, sem rodeios e sem demora, o empurrando na direção onde pudessem jogar. Matteo parecia um pouco perdido, sem nem entender o que estava acontecendo, muito menos o motivo dos olhares os encarando. Scarlet, por sua vez, não dava a mínima para as pessoas ao redor, apenas queria entender onde aquela dinâmica os levaria.
Toma. - Entregou-o o fone, deixando claro como que se iniciaria a brincadeira. Ambos ficariam sentados um na frente do outro, precisando interpretar exatamente o que o outro dissera. - Calma, duas palavras! - Tentou deixar claro que era algo duplo, e ao menos isso ele entendera... Respirou fundo, negando com a cabeça e pensando em só dizer o que precisava. Já havia recebido uma orientação, falar de coisas marcantes de si, do outro, alguma qualidade, mesmo que não se lembrasse muito das de Matteo. - Lábios vermelhos. - Não podia fazer mímica, não podia mostrar, então ele teria que realmente prestar atenção e se concentrar. - Lábios vermelhos. - Repetiu mais uma vez, pausadamente, com o máximo de calma que conseguia.
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Matteo soltou uma risada sem graça, nasalada, "até parece." Matteo quase apontou que quem tinha aparecido na academia foi ele — território que era seu de costume. Ali... Como ele saberia que era Aleksander que estava naquela atividade? Era obviamente uma pegadinha de mal gosto. Ou alguém que acreditava demais naquela coisa de maldição e havia enlouquecido. Seria a maior ironia do destino Aleksander e ele serem almas gêmeas. Não, Matteo se corrigiu, não havia como serem. Era resoluto! Ele não era o James, afinal. "Claro, claro, deixe eu salvar o seu tempo — eu sou um brutamontes sem cérebro, que se veste igual a um mendigo e devia aprender a penter meu cabelo," falou e fez uma pausa antes de continuar, como se analisasse se a sua resposta estava correta, "ou algo nesse sentido."
Não poderiam ser mais diferentes. Matteo teria ficado mais que satisfeito em apenas sentar ali e esperar o tempo passar. Normalmente, preferia o silêncio confortável de estar com alguém que gostava, mas não se importava com o silêncio desconfortável. Na maioria das vezes era tudo o que ganhava de qualquer forma. A sugestão de Aleksander, cortando o silêncio, foi inesperada. Ele levantou o rosto, confusão escrita em suas feições e as sobrancelhas franzidas tão juntas "O que você sugere, Aleksander?" A falta de sarcasmo na voz do outro fez com que Matteo hesitasse em uma resposta implicante. Ele sempre considerou Aleksander um mauricinho que nunca teve um problema na vida, então nunca soube ouvir 'não'. O estopim claro foi quando ele ouviu um 'não' de Olivia, então ele culpou a única pessoa que não era do seu círculo, e assim Matteo se transformou no bode expiatório. Não que eles nunca tiveram problemas antes — Matteo nunca teve muitos amigos de qualquer forma. Porém, se Aleksander não estivesse agindo como habitual — agressivo e sarcástico —, como ele poderia dar uma resposta ríspida e dizer que era apenas uma reação as atitudes do outro? Matteo sempre achou que seria mais fácil se eles simplesmente se evitassem, agora ele preferia que Aleksander voltasse a chamá-lo de burro. Era muito mais fácil ter um motivo para achá-lo irritante do que observar a luminosidade parca das velas distribuídas pelo quarto refletir na pele do outro, como se dançassem. Balançou a cabeça, tentando dissipar aqueles pensamentos estranhos demais para sequer aparecerem.
Não conseguiu sustentar o olhar por muito tempo. Era confuso demais. Olhar para Aleksander trazia a tona questionamentos que ele havia preferido ignorar até então. Tinha racionalizado que nada teria acontecido se eles soubessem quem eram naquela noite. Não havia nenhuma chance que ele e Aleksander pudessem sequer se interessar um pelo outro fisicamente — o estilo do playboy era tão engomadinho e esnobe que Matteo... ele o quê? Não podia conceber que poderia gostar daquele estilo? Até a festa ele também não tinha certeza que tinha interesse no mesmo gênero. Qualquer um menos ele. Foi a única coisa que conseguia pensar depois. Não tinha problemas em admitir a nova sexualidade (ou a sexualidade que sempre teve e só não explorou), mas recusava a aceitar qualquer interesse em Aleksander. E, ainda assim, estava ali sentado pensando no beijo entre eles, nas mãos passeando pelo outro ('prefiro descobrir com as mãos', lembrava da maldita frase também), e na maldita sensação de formigamento em suas mãos naquele momento como se quisesse tocar novamente. Ele fechou as mãos em punhos, cravando as unhas nas palmas para que a sensação cedesse. "Você não pode está sugerindo a massagem," até porque se ele tivesse com as mãos ao redor do pescoço de Aleksander, podia ser perigoso — para os dois, porque ou ele mataria Aleksander, ou pior... "E eu não estou emburrado. Eu só —" tenho medo de chegar muito perto e fazer algo que eu me arrependa? Tenho medo de não ter autocontrole suficiente? Beijaria meu inimigo novamente aparentemente? Não tinha nada em sua mente que ele pudesse falar em voz alta, "—estou esperando o tempo passar."
Alek estava na sala, absorto em seus próprios pensamentos enquanto tentava entender o que exatamente estava acontecendo. Ele ainda não conseguia se livrar da sensação desconfortável que o acompanhava desde que entrou naquela experiência de autocuidado. O bilhete anônimo havia lhe dado a impressão de que ele se encontraria com Olivia, mas um convite vindo dela não fazia o menor sentido.
Foi quando a porta se abriu, e Matteo entrou. Alek piscou, estupefato, quase sem acreditar no que via. Sua reação inicial foi de total surpresa, seguida de um riso seco e incrédulo. "Só pode estar de sacanagem com a minha cara..." Alek murmurou para si mesmo, quase rindo da situação absurda. Ele olhou ao redor, como se procurasse uma câmera que iria anunciar a pegadinha a qualquer momento. "Você por acaso tá me perseguindo? Que porra é essa?" Queria sair imediatamente dali, mas quem quer que tenha tido a ideia genial de trazê-lo ali, estava comprometido a mantê-lo ali com aquela porta trancada.
Era óbvio para todos o desprezo que tinham um pelo outro, mas ser jogados juntos em um ambiente tão íntimo parecia cruel demais até para os padrões de Khadel. "Bom, também não sei o que passou na cabeça deles. Você é, definitivamente, o oposto do que eu esperava." Alek bufou, frustrado, sentindo que a situação só piorava. O que ele deveria fazer? Ficar ali, de braços cruzados, com cara fechada, esperando que alguém resolvesse libertá-los? Ele certamente não queria se render à imagem de coitado derrotado, como Matteo parecia estar fazendo.
Embora sua frustração fosse a emoção predominante, algo mais o distraía. Alek não pôde evitar roubar uma olhada para Matteo. Os braços fortes, o jeito como os músculos flexionavam diante a maneira que ele se postava — aquilo tudo foi uma distração inesperada que, de alguma forma, apaziguava sua raiva. A memória do que aconteceu no baile voltava à mente de Alek com mais frequência do que ele era capaz de admitir. E vez ou outra, ele se pegava brincando com a echarpe de seda, como se o toque do tecido quase pudesse fazer o momento voltar à tona. Ele sabia que havia dito a si mesmo que o souvenir era só uma provocação, mas a verdade era que, em algum lugar bem fundo, ele sabia que significava mais.
Com um suspiro pesado, Alek pigarreou, tentando afastar os pensamentos confusos. A raiva parecia ter dado lugar a uma vulnerabilidade que ele não queria admitir. "E então? Vamos ficar aqui, emburrados, durante a próxima hora? Ou tem alguma coisa melhor para fazer?" O tom não tinha a mesma agressividade e sarcasmo de sempre. Havia algo mais, algo que Alek não queria deixar claro, mas que se infiltrava em cada palavra, uma necessidade enterrada que se tornava impossível de ignorar naquele confinamento forçado.
Matteo decidiu ficar calado com o murmúrio. Parecia que nada que falava ou fazia em relação à Helena dava certo. Ele estava sempre errado de alguma forma — porque ele não dava abertura, ou não fez o comentário correto, ou olhou de forma enviesada. A luz filtrada pelas ervas penduradas parecia brincar com os contornos do rosto dela — e ele odiava que tivesse reparado nisso. “Se ela jogar água em mim, eu juro que levanto e vou embora. Espiritualidade tem limite.” Tentou manter o tom leve, mas o incômodo era difícil de disfarçar. Sentia a camisa colando nas costas por causa da umidade, e não era só suor físico. Era o peso do espelho, da imagem que o perseguia mesmo ali, mesmo com tudo coberto, borrado, envolto em incenso. Virou o rosto só o suficiente pra encará-la quando ela falou sobre escolher. “Se desse pra escolher isso, eu encomendava três litros,” murmurou, ultimamente ele precisava bastante disso. “Mas acho que coragem é o mais próximo,” fez uma pausa, “coragem é bom. Clareza também. Mas se tiver um item extra chamado ‘me deixar em paz’, eu levo esse.” Tentou brincar, mas a voz saiu mais baixa. Um fio de verdade passando ali. Ele cruzou os braços, desviando os olhos outra vez, como se pudesse se proteger só com isso. “Vamos escolher logo antes que ela volte com um galho de arruda.”
Aquela velha louca parecia que tinha enchido a cara de café, nunca em toda vida Helena tinha visto a mulher ser tão rápida quanto no momento que ela lhe escolheu junto com Matteo para aquela maluquice. Obviamente ela não iria ficar contra a curandeira, mas não deixou de arquear uma sobrancelha ao ouvir o comentário de Matteo, um sorrisinho enviesado se formando nos lábios enquanto o cheiro de lavanda e hortelã começava a envolver o ambiente "Nossa, que incentivo, hein?" murmurou baixinho de volta. " Aguentar um pouco? Matteo, amor, essa é a parte fácil. Da corda para ela para ver se não começa a jogar água em você pra te dar "clareza espiritual"… aí sim você vai ver o que é sofrimento." tentou brincar, mas a senhora pareceu ouvir. A parte boa é que ela só ignorou. O calor do ambiente, a umidade dos sprays de ervas e a iluminação suave provocavam nela uma sensação de estar dentro de um sonho que beirava o desconfortável. Ela deu uma olhada rápida para Matteo enquanto a curandeira começava a entoar as primeiras palavras da bênção, falando de equilíbrio, de reencontros espirituais, de almas que cruzam caminhos por um propósito. "A gente vai escolher o quê?" sussurrou, um pouco mais séria agora, virando-se na direção dele. "Não sei você, mas eu tô bem inclinada a escolher coragem. Ou talvez clareza. Ou sei lá... será que dá pra pedir uma mistura que inclua "parar de surtar"?"
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com @eusouscarlet em leitura labial
Matteo não sabia como tinha parado ali. O nome da atividade estava num quadro pendurado no ateliê de Artes, no terceiro andar. Leitura Labial – romântico e divertido! Com corações desenhados em giz rosa e glitter. Era um pouco demais para uma cidade que na teoria não podia sentir o amor. Suspirou fundo, cruzando os braços enquanto observava de longe a movimentação. As pessoas pareciam animadas demais pro gosto dele. Risadinhas, empurrões, gente encarando umas as outras com segundas intenções. Nada disso fazia sentido.
Matteo já estava virando para sair do caminho quando percebeu que, de alguma forma, tinha sido empurrado para participar. Literalmente. Alguém riu atrás dele. O empurrão não era figurado. Por algum motivo, ainda tinha gente demais olhando pra ele. Talvez fosse o corpo — que ele já tinha aprendido a controlar. Ou talvez fosse ela. Dava pra sentir no ar quem era o seu par na dinâmica, provavelmente também à contragosto. A presença dela tinha uma temperatura própria: quente e, ainda assim, gélida. Sempre que Scarlet estava por perto as coisas pareciam ficar… tensas. Não era o tipo de mulher que tentava ser simpática Ela, pelo menos, era honesta no desprezo. Ou talvez só gostasse de brincar com os nervos dos outros. O fone de ouvido foi colocado sem muita cerimônia. Música alta. Baixo vibrando no maxilar. Ele suspirou, ajeitando os fios atrás da nuca enquanto se perguntava por que, exatamente, ainda frequentava eventos comunitários de Khadel. A maldita cidade parecia sempre arranjar um jeito de colocá-lo em situações constrangedoras. Matteo não disse nada. Só encarou. A mandíbula tensa, o maxilar marcado pela raiva contida. Ele odiava esse tipo de situação — essas armadilhas sociais disfarçadas de brincadeira inocente.
O primeiro movimento de lábios aconteceu. Lento, teatral, debochado. Matteo franziu o cenho, tentando decifrar. A boca se mexeu como se soubesse que ele falharia. “Macarrão com leite?” arriscou, sem pensar muito no que de fato estava sendo dito.
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com @christopherd-amato no jogo dos 3 erros
Uma das poucas dinâmicas que dava para fazer sem um par, Matteo pegou o jogo dos 3 erros na primeira oportunidade que apareceu, tentando achar um tempo sem os infinitos questionamentos de todo mundo. Quando vocês vão se apaixonar? Quando a maldição vai ser quebrada? Quem é sua alma gêmea? Matteo estava sufocado. Preferia a atenção quando todos achavam que ele era um esnobe, burro, e que ninguém era bom o suficiente. Ao menos, não tinha relação ao fato de coisas fora do seu controle. Diferente do que parecia, Matteo não gostava da atenção. Não de verdade. Era uma reafirmação para o seu ego, que ainda se via como o menino desengonçado de quatorze anos, que cresceu demais e os membros não coordenavam com o restante dele, mas a atenção não lhe dava nenhum conforto. A rede social era um emprego, não sua vida real, e não podia ser mais bem administrada por pessoas competentes em transformá-lo em alguém interessante.
Estava concentrado no jogo — em que era relativamente bom, quando ouviu alguém falar: "Vocês tem prioridade em pares," a pessoa que auxiliava o patrocinador falou, trazendo uma pessoa para o seu lado. A frase já indicava que era um dos outros nove. Matteo quis rir quando olhou para o lado e viu Christopher. Claro que era — o público geral não sabia que eles não eram almas gêmeas, não poderiam ser, e Christopher fez questão de ficar gracejando com isso. Não que ele quisesse ser, mas qualquer cordialidade naquele grupo parecia passar distante. Ele se sentia de volta para o ensino médio com as crianças populares fazendo bullying. Não importava qual era o motivo — não era esperto o suficiente, não era bonito o suficiente, não era cordial o suficiente... Nada era suficiente. O problema nunca foi ele, eram os outros. Era tudo que eles podiam fazer para acabar com seu próprio desconforto. Só que Matteo nunca descobriu isso. "Tenta não me atrapalhar," Matteo murmurou, irritado que tinham acabado com a sua paz, "você pode pegar a próxima rodada."
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com @alekmoretti em autocuidado e terapias táteis
"Ah," o assistente disse alto, batendo as palmas juntas, com uma felicidade nada necessária, "ele disse que a dupla dele ainda estava aqui fora." Matteo olhou ao redor, esperando que ele estivesse falando com outra pessoa, mas só tinha ele no momento ali. Franziu as sobrancelhas juntas. Será que alguém estava lhe pregando uma peça? Matteo estava mais do que acostumado com algumas perripécias de desconhecidos para ficar sozinho com ele, como se ficar sozinho fosse fazê-lo mudar de ideia sobre o que ele queria, mas num evento que parecia tão obcecado nos apaixonados e na maldição, não fazia sentido fazer algo dessa forma. "Acho que você está me confundindo com alguém," respondeu, apesar das chances dele ser confundido serem ínfimas. Confundido com a porta? Bem que ele preferiria. Seria alguma surpresa de Olivia? Ela adorava essas coisas. Mas eles já estiveram naquele stand — não faria sentido estarem ali novamente. Apesar do dobro do tamanho, Matteo não ofereceu resistência para o assistente. Imaginou que ele só estivesse fazendo o seu trabalho, e por saber que ele podia machucar a maioria das pessoas normais, ele raramente oferecia resistência.
Foi empurrado para dentro de um outro quarto, levemente irritado. Seu humor nos últimos dias não estava dos melhores. Entre o fracasso do ritual, o maldito espelho, as lembranças do baile dançando em sua mente quando menos esperava... Matteo já nem sabia se amor realmente importava. Pelo que ele estava fazendo aquilo? Amor? A ideia era quase risível. A única pessoa com quem se importava era Olivia, e se ela não fosse sua alma gêmea? Estava cansado daquela brincadeira da Zafira — ela estava fazendo uma grande piada deles. Quando seus olhos se depararam com a pessoa que parecia ter perdido o parceiro, Matteo balançou a cabeça rapidamente, negando como se tivesse preso dentro de um sonho ruim. "Não — não," ele rosnou por baixo da respiração, virando para a porta, "tem algum engano aqui." Sua voz era veemente. Ele tinha que sair dali. "Divirtam-se," o assistente falou antes de sair e, com um click metálico, trancar eles ali dentro. Matteo não lembrava disso de quando esteve ali com Olivia. Não tinha certeza se aguentaria Aleksander enchendo o seu saco por algumas horas. Talvez partisse para assassinato. O outro era movido a uma pilha inesgotável — como se lhe encher o saco o energizasse — e Matteo, quem nem em seus melhores dias conseguia tolerá-lo, não estava nos seus melhores dias.
Ele suspirou pesarosamente e decidiu se sentar no chão, em silêncio, como se sentar na cama fosse perigoso demais. Tentava racionalizar que o beijo entre eles apenas havia acontecido porque não sabiam quem era o outro — nunca teria acontecido em circunstâncias normais, nem fora daquela festa. O único problema era que o fato lhe atormentava demais para algo que ele dizia não importar. Descansou os cotovelos nos joelhos e cruzou os braços para abaixar a cabeça, como se não olhar ao redor fosse fazer o tempo passar mais rápido. Se não fosse maluquice, ele diria que Aleksander planejou aquilo para lhe encher o saco — assim como havia aparecido na academia com parte da sua fantasia para lhe assombrar. Para quem me odeia tanto, ele aparece um assustável número de vezes na minha vida sem ser convidado, pensou. "Não sei porque eles pensaram que eu era seu par," finalmente falou, se defendendo daquela maluquice. Não era uma novidade na cidade que Matteo e Aleksander não se davam bem. Talvez o assistente apenas acreditasse que era uma boa pegadinha, colocar os dois 'apaixonados' que se odeiam numa sala para se massagearem — como se eles fossem fazer isso.
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Franziu as sobrancelhas juntas, optando por não dar uma resposta a primeira interjeção que ela fez, como se devesse ser claro para ele. Sua personalidade podia ser um pouco direta demais — bruta até — para que ele conseguisse dar uma resposta que retrucasse e ainda soasse amável. Matteo definitivamente não tinha aquele domínio. Talvez ela não tivesse entendido que não tinha a ver com ela, mas sim com ele. Ele quem precisava que ela aceitasse sair dali, ao invés dele mesmo ter que confirmar que não queria estar ali. Ele que não tinha nada a ver com aquela tenda estranha. Mas seria ele também que ia ter que engolir os seus gostos e tentar aquele encontro. Por Olivia. E, a última coisa que ele queria fazer, era brigar por conta de uma dinâmica estúpida de Khadel — por mais que tirar as roupas fosse a última coisa que ele queria.
Matteo normalmente não tinha problemas em ficar semi-nu. Era parete do seu trabalho e ele lidava bem com as inseguranças que ainda existiam. Não era como se tivesse satisfeito ao se olhar no espelho, mas, desde a sessão com a Zafira, as coisas haviam deteriorado. Era quase como se ele também não sentisse seus músculos, além do olhar no espelho e não enxergá-los. Tudo que podia ver, ou sentir, era o Matteo de treze ou quatorze anos. Aquele Matteo não tinha chance alguma com essa Olivia. Ou com qualquer outra pessoa. Aquele Matteo não teria a carreira que tinha, ou qualquer outra coisa do seu presente. Agora que ele não podia ver como havia alcançado aquilo, sua vida parecia uma farsa.
Respirou fundo enquanto ela parecia interessada em olhar os potes e frascos. Matteo não achava que ele estava muito diferente do seu usual. Normalmente, ele parecia tenso, ou indiferente, ou com uma expressão de poucos amigos que ainda assim não afastava metade da cidade, que parecia determinado a quebrá-lo. Descobrir a sua sexualidade, ou conseguir conquistá-lo parecia uma espécie de hobby olímpico em Khadel, apesar das suas inúmeras tentativas de acabar com as investidas. "Não," disse com firmeza, decidido que não podia estragar a primeira oportunidade que conseguiam de ficar juntos novamente, "não tem importância." Tinha, mas ele não queria estragar o primeiro encontro que tinham em anos, sem contar aquele do Giardino — que talvez não fosse tão encontro assim. Ele sabia que teriam que conversar sobre aquilo, cedo ou tarde, mas falar de Aleksander em qualquer situação já era o suficiente para acabar com o humor dos dois — no acontecido então, seria infinitamente pior. Só não seria pior se ela ouvisse de outra pessoa. Mas colocou o seu melhor sorriso no rosto para tentar mudar como se sentia no momento, "não podemos pular a massagem."
O lugar era bonito, calmo, perfumado. Uma mistura de lavanda, citronela e algo levemente doce que ela não sabia nomear. Olivia optou por um look romântico e delicado, com blusa floral de mangas bufantes, jeans claro de cintura alta e tênis branco básico. O cabelo semi-preso com scrunchie, uma vibe leve, sonhadora e feminina muito diferente da imagem de mulherão que imprimia todos os dias pela cidade. Mas ela queria se sentir mais livre, mais ela mesma, especialmente se queria se reconectar com o Matteo, não podia ir munida das máscaras que costumava usar. A presença dele ao seu lado era tão física que parecia mais um cheiro, uma temperatura, uma vibração na pele. Tiveram dificuldade de marcar um encontro depois do Il Giardino, as agendas de ambos pareciam não bater, mas não os impediu de tentar. E conseguiram. Olivia ouviu com atenção o profissional explicar os tratamentos disponíveis. Até que ficaram sozinhos. Ela virou o rosto para ele devagar, o olhar focado nos olhos, como se escavasse algo. Estava de peito aberto ali, mas precisava que ele também. — É, Teo. Eu tô aqui, não tô? — Falou baixo, quase doce, mas com aquela firmeza que sempre usava quando queria desafiar sem parecer agressiva. Havia algo ali, no jeito como ele perguntava, que a deixava confusa e levemente irritada. Como se esperasse que ela desistisse. — Se você quiser, podemos escolher outra coisa. Mas vai estar perdendo essas mãozinhas fantásticas em ação. — Mostrou as mãos, o sorriso, dessa vez num tom mais divertido, enquanto pensava no que poderiam fazer ali. Cuidar da pele, do corpo, relaxar... algo mais. Qualquer ideia era atrativa quando se tratava dele, e ela desejava que ele se sentisse tão confortável quanto ela se esforçava para estar.
Caminhou até a bancada de produtos, passou os dedos pelos potes de vidro, pelas texturas. Uma piadinha sensual chegou a ponta de sua língua, mas ela guardou para si. Em outro momento teria oportunidade. Suspirou, pensativa. Por ela, ficaria horas na companhia dele naquela sala. Tocando seu corpo, sentindo seu calor, conversando como fizeram naquela noite em que tudo mudou, e torcendo para que, dessa vez, as coisas fossem diferentes. Virou-se para ele com um óleo em mãos, mostrando-o como se filmasse uma publi para seu instagram. — Esse aqui parece ótimo. O cheiro é bom, tem propriedades calmantes. — Voltou a caminhar na direção dele, enquanto falava. — Você parece tenso... — Sondou, sem muitos rodeios. — Quer falar sobre isso, ou só esquecer o assunto com uma boa massagem? — Perto o suficiente, ela encarava o seu rosto, buscando seus olhos e tentando entender o que havia mudado desde o jantar. O encontro no Il Giardino começou um pouco conturbado, mas passaram o restante da noite conversando e rindo, como se não tivessem ficado sete anos sem falar um com o outro. A possibilidade desse tempo afastados depois do delicioso jantar ter feito Matteo repensar e não desejar mais se aproximar dela causou um bolor na garganta, um embrulho no estômago que estava se tornando difícil de ignorar ou disfarçar.
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Ele estava estranhamente presente no evento. Fiera dei Sensi. Era um evento estranho, um que normalmente não veria ele tão participativo. Talvez ele fosse convencido por Olivia a fazer uma aparição, em circunstâncias diferentes, mas desde seu encontro com o espelho, os rituais... Matteo não sabia mais no que acreditar. E acabava voltando ali, como se a casa de Rose pudesse lhe dar alguma resposta. Uma voz prática, curta, quase pragmática demais soou do seu lado. Quase uma ordem disfarçada de convite. Teria balbucidado se tivesse a capacidade de falar qualquer coisa.
Não podia deixar de notar como ela havia ficado mais bonita. Mesmo na adolescência, Aslihan já atraia olhares — ao menos o seu olhar. Era um garoto magrelo e estranho com a única garota que era legal com ele, obviamente ele não era exatamente imune. E ela era bonita. Nada daquilo exatamente ajudava nas sessãos de estudo que tinha com ela. Os cabelos escuros estavam repuxados para trás num familiar rabo de cavalo, e ele se lembrava de como ela também puxava os cabelos para fora do rosto enquanto estava pensando. Quando era adolescente, ele era bem familiar com o perfil da mulher, espiando entre um exercício ou outro que não conseguia entender. Agora, não fazia questão de esconder que estava olhando diretamente para ela, afinal ela estava falando com ele, apesar de que ela parecia preferir fazer qualquer coisa do que estar ao seu lado.
"Mmm," murmurou, com confusão quando sua fala retornou, antes de responder, "claro." Apesar da distância entre eles, tanto física, quanto emocional, existia uma familiaridade estranhamente reconfortante que Matteo não queria abrir mão. Não era exatamente como se soubesse o motivo deles terem se afastado. Ele tentou se manter amigável, apesar que Matteo e amicabilidade não eram exatamente sinônimos, mas sem esforço suficiente de ambas as partes, acabaram caindo no esquecimento. Não havia sentimento ruim da sua parte. Era apenas como se tivessem descobrido o quão diferente eles eram. Aslihan era muito boa para ele. Ele constantemente se sentia um completo desajustado ao redor dela. Era como se ela refletisse todas as coisas em que ele falhava miseravelmente. Ao mesmo tempo, ela não o fazia se sentir mal consigo mesmo. Não, Matteo fazia tudo aquilo dentro da sua própria mente, enquanto Asli não era nada além de agradável. Isso era, ao menos no passado. Ali, naquele momento, Aslihan não demonstrava nada além de imparcialidade, apesar que ele sentia como se tivesse voltado aos quatorze anos — estúpido demais para produzir qualquer pensamento coerente junto dela.
Andaram em silêncio para a frente da fila. Observava-a pelo canto do olho, como anteriormente o fazia, sempre que achava que ela não notava. A proximidade que criaram durante os anos era... Excêntrica. Por um lado, o que os aproximou havia sido a ajuda que ela lhe dava nas matérias, como uma professora diligente, porém era muito mais atenciosa com a sua dificuldade de compreensão do que seus próprios professores. Por outro lado, Matteo podia ficar escutando-a falar por horas, sobre qualquer outro assunto, assistindo envolto desde jovem o cometa que ela era. No auge dos seus quatorze anos, entretanto, ele não tinha desenvoltura o suficiente para sequer entender a atração, ou fazer algo sobre isso e, quando eles se afastara, ele definitivamente não tinha maturidade emocional suficiente para ir atrás e entender o que aconteceu. Ele deixou-a ir, sem brigas e sem esforços. Com o passar dos anos, pensou menos e menos no que poderia ter feito errado, aceitando o acontecimento apenas como fatos da vida. Agora, anos depois, talvez ele devesse ter se arrependido, tentado entender melhor o que houve, ou simplesmente não tê-la deixado ir com facilidade. Mas não podia fazer nada sobre.
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Ela lembrava. Lembrava dele pequeno, franzino, com o olhar perdido sobre o caderno de matemática e os dedos tamborilando a mesa como se pudessem evocar a resposta certa. Aslihan tinha doze anos quando começou a ajudar Matteo com os deveres — uma tarefa voluntária que aceitou mais por teimosia do que por vocação. Mas havia algo nele que a fazia permanecer: uma doçura tímida, uma necessidade de aprovação, um desejo sutil de ser visto que ecoava fundo nela. Naquela época, ele olhava para ela como se ela fosse feita de ouro e palavras sábias, como se não fosse possível errar na presença dela. Ela não sabia do crush. Matteo era muito sutil ou ela muito desatenta. Mas era um afeto silencioso, inofensivo, quase puro demais pra incomodá-la. Aos quinze, ele parou de pedir ajuda. Passou a malhar, arranjou novos amigos, descobriu uma autoconfiança que não incluía mais lições de casa nem tardes com ela. Aslihan não se surpreendeu. Só confirmou, mais uma vez, que as pessoas gostavam dela enquanto precisavam dela. Depois? Sumiam. Matteo foi só mais um. Era essa a visão que ela tinha da relação dos dois. Agora, vê-lo em Khadel, ambos adultos, ela não sabia mais se tinha alguma mágoa. Talvez fosse só... indiferença. Uma camada fria que cobria um incômodo antigo e que ela preferia não cutucar.
Aslihan tinha ido à Fiera dei Sensi no impulso de fazer algo novo. Nos últimos tempos, vinha tentando sair do próprio casulo, mas optando por continuar sozinha. Caminhava entre as instalações tecnológicas, as salas que misturavam aromas e sons, os sorrisos dos casais, a animação dos jovens que aproveitavam o momento para flertar, as crianças que se divertiam com as novidades, e tudo parecia mais colorido — menos para ela. E foi aí que viu a sala do Óculos Kinect. Uma das experiências mais faladas do evento. Uma imersão sensorial, uma viagem completa. Ela não resistiria. Mas a fila... estava impossível. E claro, como tudo em Khadel agora, os reencarnados tinham prioridade quando estavam em duplas. O incentivo ao amor pairava sobre a cidade como uma névoa adocicada, sufocante, mas que poderia ser muito útil agora. Ela olhou em volta. Procurou um rosto conhecido entre os nove. Qualquer um. Mas só viu ele. Matteo. "Não", pensou, cruzando os braços. "Qualquer um, menos ele." Virou o rosto, seguiu andando devagar, tentando encontrar outro par. Ninguém. Ninguém ali que pudesse ajudá-la a furar a fila e garantir a experiência. A irritação queimou devagar dentro dela. Até que respirou fundo.
Ela podia simplesmente pedir. Ser direta. Objetiva. Não ia morrer por isso. Além do mais, se eles fossem almas gêmeas? Não que ela estivesse disposta, mas parecia uma boa desculpa para se aproximar. Só estou fazendo isso por conta da maldição. Caminhou até ele, passos firmes, olhar decidido, ainda que por dentro cada parte de si gritasse que era uma péssima ideia. Parou ao lado dele, braços cruzados, e falou com a voz mais prática que conseguiu reunir: — A fila do Óculos Kinect tá enorme. Reencarnados têm prioridade quando estamos em pares. Você vem comigo? — Nenhum "oi", nenhum rodeio, nenhum sorriso. Só um convite seco, direto e impessoal. A forma mais segura que encontrou de se proteger da lembrança de um menino que, um dia, a olhava como se ela fosse feita de luz. Ela não era. Nunca foi. E não estava ali pra reviver ilusões. Estava ali pra ver baleias flutuando, sentir o vento no rosto numa montanha-russa digital, fugir de zumbis ou dançar num show que nunca viu. E, se pra isso precisasse dele, que fosse.
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Desde os acontecimentos da festa de Helena, Matteo estava confuso. Não era que havia se arrependido da sua decisão de se soltar no evento e deixar que a festa tomasse o rumo que tivesse que tomar. Mas estava confuso com algumas das pessoas com as quais havia se soltado — principalmente com o pior deles. Aleksander. O homem havia ido até a academia para provocá-lo, carregando parte da sua fantasia. Matteo nunca realmente falou que ele era hétero ou bisexual, apesar da constante especulação da cidade. Parte deles, acreditavam fielmente que ele era gay. Na verdade, apesar de já ter navegado por entre alguns vídeos de homens, os beijos dados em homens no evento havia sido sua primeira e segunda experiência com o mesmo sexo, e o que tornava mais enfuriante era o fato dele ter gostado, agora sabedo quem ele havia beijado.
Não sabia como lidar com nada daquilo — nunca foi muito bom em comunicar o que sentia — mas ele sabia que precisava falar aquilo para Liv antes que a história chegasse em seus ouvidos, ainda seria pior se chegasse para ela por Aleksander. Aquela loucura de famílias ricas que forçavam seus filhos a se casarem era demais para ele, mas a história de Olivia e Aleksander tinha esse aspecto estranho o qual ele não dividia com ela. Talvez fosse exatamente o que ela precisasse.
Matteo havia decidido que seria melhor contar a versão mais leve dos acontecidos. Nada sobre como ele havia se sentido, nada sobre como foi. Eles se beijaram, apenas isso. Duvidava que Aleksander iria querer entrar em detalhes sobre o acontecido também. Porém, ele não havia preparado Liv, nem dito que precisavam conversar, ele não queria criar aquela expectativa. Ele só esperava que teriam um momento para falar sobre aquilo.
Se encontraram na feira como haviam combinado na noite anterior depois de um tempo sem conseguirem se ver. Talvez estavam indo mais devagar do que ele imaginava quando sugeriu que fossem com calma, mas entre sua rotina já ocupada e aquela confusão de pensamentos que ele não estava conseguindo processar, a maior parte do seu tempo livro, Matteo passava com o nariz enfiado no seu diário. "Você tem certeza que é isso que você quer fazer?" Matteo perguntou para Liv, esperando que talvez ela mudasse de ideia de alguma forma, apesar do massoterapeuta ter acabado no com a sua explicação e deixado eles na sala sozinhos. Ele era um homem vaidoso em geral, apesar que estava sempre buscando um ideal de beleza que parecia inalcançavel. Magro demais. Branco demais. Não se deixe bronzear demais. Faça as sobrancelhas. Mas não finas demais. Tenha pêlos para ser viril. Mas não pelos demais. Matteo não sabia se autocuidado era exatamente o que ele precisava.
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Matteo se sentia atraído pelo evento de alguma forma. Talvez fosse relacionado a maldição que, agora, ele hesitantemente acreditava. Principalmente depois que ele foi até a cigana e agora ele não conseguiu mais se sentir confortável na sua pele ou olhar o seu reflexo no espelho. Talvez por acontecer na casa de Rose Von Bleicken, que ele se via voltando dia após dia. Talvez fosse porque ele não quisesse ficar dentro da própria casa, onde os espelhos estavam cuidadosamente cobertos. Ir na academia era uma pequena sessão de tortura, onde ele assistia o seu eu de quatorze anos levantando cento e quarenta kilos. Naquele evento, ele podia evitar tudo isso e cada dia parecia carregar uma nova surpresa para ele. Naquele dia, ele estava olhando os produtos à venda no L'Erbario di Gilda. Isso é — até Nonna Gilda aparecer com um som ultrasônico, "i miei amanti," ela disse, abrindo um braço para ele e outra para alguém atrás dele. Matteo olhou por cima do seu ombro, vendo a figura de Helena. Ele queria resmungar, audivelmente, mesmo que ele tenha até partido em bons termos com Helena. Ele não estava com disposição para a personalidade gigante dela. Mas parecia que eles estavam sendo arrastados já para dentro de algo que parecia uma tenda improvisada, com cheiros fortes. "A gente só tem que ser forte e aguentar um pouco," ele finalmente murmurou em direção a Helena.
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Matteo: Hm vi. Podemos ir sim. Te encontro lá?
Matteo: Mando uma mensagem mais perto para a gente combinar.
Olivia: Acho que nada além do que quase todo mundo sabe. E eu não sei qual o critério dessa coisa de reencarnação. Tipo, a gente volta toda vez tendo a mesma personalidade ou cada reencarnação muda?
Olivia: Porque se for a mesma essência, eu me identifico mais com a Rose do que a Kimberly.
Olivia: Mas, ei, chéri, viu que o instagram da cidade falou sobre uma Feira dos Sentidos?
Olivia: É só depois do ritual, mas tá afim de ir? Podemos conversar mais sobre isso lá.
Matteo: E o que você sabe sobre eles? Porque eu não sei nem onde começar.
Olivia: A Zafira vive pedindo pra gente pesquisar sobre eles, então eu imagino que sim.
Olivia: A gente tem a ver um com o outro. É o que importa. Vamos torcer por algum resultado positivo 😊
Matteo: Eu não sei nada deles, Liv. E importa?
Matteo: E se a gente não tiver nada a ver com eles?
Olivia: Você diz nós dois como um par, certo? Se for, eu topo!
Olivia: Eu gosto do pente da Rose ou do broche da Kimberly. Você se identifica com os objetos do Jack ou do Edward?
Matteo não desviou o olhar dessa vez. Observou Helena com uma atenção silenciosa, quase desconfortável, como quem não sabe o que fazer quando alguém escolhe ver além da fachada. Havia algo na forma como ela falava — tão contida, mas ainda assim vulnerável — que o fazia se encolher por dentro. "Não é pessoal, tá? Eu só… não confio fácil. Nunca confiei. E cada vez que tentei, só me fodi mais um pouco. Então, se eu pareço fechado ou defensivo, é porque sou." Se recostou levemente, cruzando os braços, um gesto que parecia distante mas era só proteção. Era o máximo de abertura que conseguia oferecer naquele momento — e, vindo de Matteo, já era muito. "Só… me dá tempo." E com isso, ele deixou a frase morrer ali, sem pressa, mas sem necessidade de prolongar. Helena tinha falado. Ele também. E por agora… era o suficiente.
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FLASHBACK ANTES DO BAILE
Helena manteve o olhar em Matteo sentindo-se estranha. Aquilo ali, aquela conversa esquisita, o muro dele tão bem levantado, tudo aquilo cutucava algo nela que normalmente preferia ignorar. Ela apoiou os cotovelos na mesa, os dedos entrelaçados como se estivesse se preparando para responder a uma coletiva de imprensa. Por fora, impecável. Por dentro, uma bagunça só. "Matteo…" o nome saiu mais baixo do que ela pretendia, quase com doçura, e por um momento ela não o confrontou, apenas respirou fundo afinal não queria discutir.. Ela só... queria ser compreendida. E talvez, no fundo, compreendê-lo também. "Eu não estou tentando demais porque quero te conquistar ou convencer você de alguma coisa. Eu só... Pensei: talvez essa maldição tenha sentido. Talvez ele seja alguém que vale a pena conhecer além do que os outros enxergam." Ela desviou os olhos por um segundo, encarando o próprio reflexo na colher ao lado da xícara. No movimento a volta deles. Até no movimento das garçonetes. "Você se sentiu encurralado. Eu entendo. Juro. Não vou te forçar a nada, Matteo. Nem amizade, nem confiança, nem conversa." Ela voltou a encara-lo, um tanto mais suaves por estarem realmente se falando e botando na mesa o que pensavam. "A gente não amou ninguém de verdade ainda. E talvez nunca ame. Mas eu vi acontecer, eu vi de perto o brilho nascer nos olhos de alguém... Por isso achei que a gente precisa parar fugir, tentar se conhecer..." Helena girou o anel no dedo, de novo. O gesto automático de alguém que sempre fingia ter tudo sob controle, ancorando-se na terra e não deixando a mente ir para onde não desejava. "Se eu te fiz sentir invadido... me desculpa. Não foi minha intenção, serio. Às vezes eu esqueço que as vezes posso ser um pouco demais..." ela deu um sorriso de canto. Tentando deixar as suas próprias muralhas caírem, afinal era cansativo demais tentar ser A Helena Sorrentino... " Eu só queria conversar, mas vou me controlar."
Matteo manteve o sorriso no rosto, mas o peso das palavras de Alek cravou mais fundo do que ele queria admitir. As mãos se contraíram, inquietas, como se o corpo controlasse a vontade de bater em Aleks. Por fora, parecia apenas entediado; por dentro, era um campo minado. Cada provocação de Aleksander parecia saber exatamente onde acertar, onde a fachada começava a trincar. O comentário sobre as “lembrancinhas” lhe arrancou um riso breve, áspero, mas as unhas começavam a se fincar nas palmas, continuando a força descomunal que precisava para não acabar socando Aleksander. Ele só queria tirar uma reação sua, Matteo pensou, deixando aquele mantra ecoar em sua mente. Socar Aleksander só iria piorar as coisas. Matteo era bom em fingir — sempre foi —, mas era péssimo em lidar com aquilo que realmente queria ignorar. A raiva, a vergonha, o medo enraizado de ser mais transparente do que gostaria.
Sabia que Aleksander estava mentindo. Os boatos sobre ele não eram nada como os boatos sobre Aleksander — acreditavam que ele não tinha interesse em mulher — mas nunca que ele estava pegando todos por aí. Inclusive, era o contrário. Porém, Aleksander era tão cheio de si que não ia adiantar discutir. O melhor que ele podia fazer era ficar quieto. Não iria vencer Aleksander naquele jogo. Quando Alek girou nos calcanhares, Matteo acompanhou o movimento com os olhos, o maxilar travado, o peito subindo e descendo de forma irregular. A voz baixa e cortante reverberou como um estalo dentro dele, arrancando lembranças que Matteo preferia manter enterradas — memórias de uma noite que ainda não sabia como rotular sem se sentir ridículo.
Ele cruzou os braços, uma tentativa falha de se proteger, de manter distância, mas o olhar que lançou para Alek era ácido, impulsivo. Matteo odiava aquilo — odiava o quanto ainda se sentia exposto, mesmo sem dizer uma única palavra. O golpe seco contra o saco de pancadas o fez piscar, como se o som quebrasse o transe momentâneo. Matteo endireitou a postura, desenhando de volta o esboço de arrogância que usava como armadura. Só que dessa vez, a linha de tensão em sua mandíbula era impossível de ignorar. A echarpe. O segredo. “Mas só um diz nós saiu do seu caminho para provocar uma pessoa que supostamente você detesta não é mesmo?” Matteo finalmente rebateu, ríspido — Matteo podia não entender muito bem o que aconteceu naquela festa, mas ao menos ele não saiu do seu caminho para provocar alguém que ele não gosta, carregando o tecido da pessoa por aí. Ele não esperou uma resposta de Aleksander, indo embora.
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Alek soltou um riso seco diante da provocação. A maneira como Matteo batia palmas e o chamava de palhaço só confirmava o que ele já sabia — Matteo estava, no mínimo, irritado. E isso, para Alek, já era uma vitória por si só. "Palhaço, é?" Murmurou com um sorriso enviesado. "Bom.. Melhor ser palhaço do que um boneco de vitrine, não acha? Bonito por fora, oco por dentro e sempre tentando esconder a rachadura na base."
Quando Matteo comentou sobre a echarpe, Alek riu mais abertamente, como quem se diverte com a própria audácia. "Não precisa se incomodar com a cueca, Bianchi. Já ouvi boatos suficientes pra apostar que você anda distribuindo lembrancinhas por aí com muito mais frequência do que gosta de admitir." A fala veio com um ar quase casual, mas o olhar ainda era afiado. "A diferença é que a maioria das pessoas guarda essas histórias em segredo. Eu prefiro guardar em seda."
Ele deu as costas por um segundo, como se fosse encerrar a conversa, mas girou sob os calcanhares com a mesma elegância arrogante de sempre. Os olhos semicerrados, a voz mais baixa agora, afiada e cheia de veneno controlado. "E sabe, Matteo.. Você devia tomar cuidado com o que finge não sentir. Esses impulsos que você enterra com tanto afinco? Eles tem o péssimo hábito de florescer no escuro. Às vezes no meio da noite. Às vezes no meio da próxima dança." Voltou a pegar o saco de pancadas com as mãos enfaixadas, mas lançou um último olhar por cima do ombro, o sorriso torto e irônico de sempre, agora levemente mais sombrio. "E quanto ao que eu tô tentando provar? Absolutamente nada. É você quem ainda tá tentando entender o que fez naquela noite." Ele socou o saco com força, o som seco ecoando pela academia. "Mas relaxa, campeão. O segredo tá guardado. E a echarpe também."
Matteo sustentou o olhar dela por um instante longo demais, os olhos escuros parecendo pesar cada palavra dita. A sinceridade de Scarlet não o surpreendia — ele sempre soube que, para ela, ele era pouco mais que uma lembrança apagada. Mesmo assim, alguma parte dele, pequena e teimosa, se encolheu diante da confirmação crua. Ele passou a língua pelos lábios, num gesto distraído, e soltou um suspiro baixo, quase um riso sem força. A mão subiu até a nuca, bagunçando os cabelos antes alinhados para o sermão. Matteo olhou para o chão, para as rachaduras no cimento, como se ali encontrasse a única resposta verdadeira.
Quando falou, a voz saiu rouca, arranhada pelas coisas que não dizia. "Não muda nada, Scarlet," deu de ombros, mas o movimento era mais pesado do que queria deixar transparecer. "Só achei… que talvez fosse menos insuportável. Pra todo mundo," ergueu o olhar de novo, a expressão cansada, mas havia uma ponta de desafio ali, algo quebrado e orgulhoso demais para se render completamente. Ele estava cansado de todos eles agindo uns contras os outros — não era como se ele quisesse estar naquela situação.
"E não, não tô esperançoso. Nem burro a esse ponto." A boca puxou um sorriso torto, sem humor. Ao contrário do que todos achavam, Matteo não era esse nível de burro — não confiava cegamente naquele grupo. Ele precisava fazer o que podia se quisesse chegar na verdade. "Bem, talvez seja melhor parar de tentar achar lógica nas coisas." Matteo enfiou as mãos nos bolsos da calça, balançando o corpo levemente para trás como se se preparasse para se afastar. Mas ficou parado ali, preso numa linha invisível que ele mesmo não conseguia atravessar.
Matteo sempre foi um rapaz bom, educado, e em algum momento da infância ou adolescência dos dois, não conseguia se lembrar exatamente, a amizade se perdeu. E isso ainda remetia uma sensação estranha para Scarlet, a qual demonstrava isso com o silêncio e a ausência de resposta. E ele tinha razão em uma coisa: estavam realmente no mesmo buraco, todos eles. Matteo não seria o ideal para si caso fosse sua alma gêmea, muito contrário a isso, era uma de suas últimas opções caso acontecesse. - Mais legal? Certo... E isso mudaria algo? Já estamos no fundo do poço. - O questionou com certa sinceridade, e a resposta continuava a mesma em seu subconsciente: não. Mesmo depois que tudo isso acabasse e que cada um descobrisse sua alma gêmea, não via um fim de fato para aquela maldição, ao menos não nessa reencarnação. - Está tão esperançoso assim de que tudo vá dar certo quando isso terminar? Porque sinceramente, não vejo como pessoas como nós todos envolvidos possam ser "alma gêmeas" um do outro.
Matteo não respondeu de imediato. O olhar dele percorreu o rosto dela, demorando meio segundo a mais nos olhos — como se estivesse tentando decifrar o que ela realmente queria dizer por trás do deboche. "Eu não julgo." A voz saiu baixa, quase rouca, e seus ombros rolaram quase automaticamente. Seu olhar deslizou para a maquiagem discreta, nada característica de Scarlett, depois voltou para os olhos dela. "Quando eu disse que sou santo?" Perguntou com curiosidade. Scarlet, Aleksander — eles não pareciam entender a diferença entre ser calado e ser santo. Matteo enfiou as mãos nos bolsos do casaco, os ombros levemente tensos, e desviou o olhar por um instante. Parecia que ia embora. Mas não foi. "Você devia ser mais legal — afinal, a gente está no mesmo buraco." Existia uma chance da Scarlett ser sua alma gêmea? Sim. Ele iria sequer entreter aquela possibilidade? Absolutamente não. Mas era assim que ele se sentia com a maior parte do grupo.
Scarlet odiava ir à igreja, mas ao menos uma vez por mês dava o ar da graça apenas para manter as aparências, principalmente pela relevância de sua família e para manter a imagem de "boa moça", que convenhamos, boa parte das pessoas daquela cidade sabia que não era bem assim. Conseguia atuar perfeitamente, se mostrando atenta ao sermão e até mesmo fazendo as rezas que sabia de cor. A maquiagem que geralmente era pesada e com um batom vermelho chamativo, hoje era algo tão leve que era quase imperceptível. Quando acabou, cumprimentou as pessoas que estavam ao seu lado com um belo sorriso, mesmo que fosse falso, ninguém sequer notaria isso mesmo... Ou foi o que pensou quando Matteo se aproximou. - Como pode ver, estou intacta. Mas você não é bem um santo também para me julgar, não é mesmo? - O respondeu em um leve tom de deboche, e no mesmo tom de informalidade que, não sabia em qual momento ao certo, adquiriram essa "intimidade" para tal.
Matteo não respondeu de imediato. Só observou. O vinho girava devagar entre seus dedos, mas ele nem olhava mais pra taça. Os olhos estavam nela. Sempre nela. Cada palavra que Olivia dizia parecia ficar suspensa no ar por tempo demais. Como se ele estivesse tentando absorver tudo sem deixar escapar nada. Quando ela enfim parou de falar, o silêncio ficou entre eles por alguns segundos. Matteo pousou a taça com cuidado sobre a mesa, o som leve do vidro sendo a única interrupção. Respirou fundo antes de dizer, "não sei, Liv." O olhar dele estava fixo no dela. Era raro vê-lo assim — tão direto, tão cru. Mas ainda assim... contido. Ele não era do tipo que se deixava levar. Nem pelas emoções, nem pelas memórias.
Ele desviou o olhar, só por um instante, observando o tecido branco sob seus dedos. Passou a mão ali, devagar, como se precisasse se ancorar em algo concreto antes de continuar. Ele não podia simplesmente pular em um relacionamento. Não era assim como às coisas funcionavam. Parecia apenas um estalar de dedos para Olivia, a as coisas eram como antes. "As coisas não voltam simplesmente a ser como era antes, Liv." Não apenas porque ela queria. Voltou a encará-la, agora com o maxilar levemente travado. "A gente queimou tudo de uma vez. E o que sobra depois disso? Cinza." Se recostou na cadeira, cruzando os braços num gesto quase involuntário — meio defesa, meio hábito. "Eu não sei se o que a gente sentiu foi amor. Ou só o reflexo do que a gente queria desesperadamente acreditar que podia sentir." A expressão dele suavizou por um segundo. "Mas... eu sei que doeu. E que ficou." O pior era o sentimento de abandono final que ele mesmo contribuiu.
Olhou pra ela de um jeito mais demorado agora. Não como quem avalia ou julga, mas como quem tenta sentir o que vem de dentro, mesmo quando não se quer sentir. "Eu não quero repetir o mesmo erro. Nem com você, nem comigo." A mão dele voltou à mesa, agora parada, como se pesasse mais. Ele hesitou um pouco, e então disse, mais baixo: "Então… se for pra tentar, tem que ser diferente. Do começo mesmo." O tom dele era mais suave agora, mas ainda assim firme. Como se essa fosse a única forma que ele conhecia de cuidar de algo: com cautela. Um meio sorriso apareceu nos lábios dele — pequeno, quase imperceptível. "Talvez a gente não seja mais os mesmos, Liv... mas talvez seja exatamente por isso que agora tem chance." Então ele estendeu a mão pra ela. O gesto era simples, sem grandes gestos dramáticos. Só um convite silencioso.
“Claro que significou, Olivia.” Ela assentiu levemente, com o olhar fixo em Matteo, mas apesar da resposta ter aliviado o seu coração, ela não bastou. Não quando ele desviava os olhos, não quando o corpo dele parecia querer se proteger de algo que nem ela conseguia nomear. Mas significou. Isso era um fato. Ela engoliu seco. Não sabia se doía mais ouvir que foi especial do que se ele tivesse negado. Porque, se foi, então por que ele deixou aquilo morrer? Por que permitiu que o asco tomasse conta ao ponto de deixá-la sozinha na pior versão de si mesma? Era um pensamento egoísta, considerando que havia feito o mesmo, mas não conseguia deixar de culpar a si mesma e a ele também. Ela o observou girar o vinho como se buscasse ali as palavras certas, ou coragem. Talvez os dois. Olivia piscou lentamente. Era raro que alguém a chamasse de Liv. Era íntimo demais, cru demais. Ela se manteve imóvel, mas sentiu o estômago revirar com o apelido. Nostalgia ou saudade, não saberia dizer.
Ela sentiu a vontade súbita de rir, um riso que não era de graça, nem zombaria, mas puro desespero. Inevitável. Como se não tivesse doído. Como se fosse só mais um tropeço do destino, e não o começo do fim da mulher que ela costumava ser antes de virar a musa de Khadel. E foi quando o ouviu dizer sobre seguirem em frente, como se aquela conversa, para ele, significasse apenas pôr em pratos limpos e colocar um ponto final definitivo. Ah. A velha saída prática de Matteo. Simples. Racional. Quase fria. Olivia suspirou e enfim soltou a mão dele, deixando-a cair sobre o próprio colo. Não era um gesto de raiva, mas de cansaço. Seus olhos se perderam por um segundo na mesa perfeitamente arrumada, antes de voltarem a encará-lo com uma doçura nada típica dela. — E se a gente tentasse de novo? — A pergunta saiu baixa, mas clara, sem rodeios. Nada de joguinhos, nada de entrelinhas. Só a verdade, crua. — Eu sei que não somos mais os mesmos. E que existe isso... essa maldição, essa... coisa que nos prende, que sufoca antes mesmo de acontecer. Mas e se a gente tentasse? As coisas parecem diferentes agora, com a Zafira ajudando, e as pessoas na cidade se apaixonando. Talvez seja o nosso momento. — A pessoa certa no tempo errado, ela começava a acreditar que haviam sido isso. Apenas eram imaturos, e a maldição forte demais. Talvez, agora, a chance de serem felizes num relacionamento de verdade fosse possível. Ela inclinou o corpo para frente, os olhos atentos, mas sem súplica. Era um convite, não um pedido. — Só... uma chance. Pra ver se aquela chama ainda existe. Porque naquela noite, Matteo, eu juro, ela brilhou. Forte. E eu acho que você sentiu também. Ou não teria sentido o asco bem no dia seguinte, como eu também senti. — Afirmou, ainda que ele não tivesse dito com todas as letras que isso havia acontecido. Pausou, mordendo o canto do lábio. — Não tô dizendo que vai ser fácil. Talvez o asco venha de novo. Talvez a gente falhe. Mas pelo menos a gente tentou. E se isso ajudar com a maldição? E se for isso que nos salva? — Havia esperança ali, sim. Mas também havia medo. Porque, no fundo, Olivia sabia que amar era a coisa mais perigosa que poderia fazer. E mesmo assim, estava disposta a correr o risco.
Matteo: Só de pegar os objetos que faz par... Não é perfeito, mas bem... Tem apenas quatro possibilidades, não é?
Olivia: Oi, chéri. Pior que não... você tem alguma ideia ou estratégia?
Matteo: Você sabe qual objeto você vai pegar no ritual?
Ele deu uma risada sem graça com a pequena impressão dela e um haltere. Pasqualina na academia havia sido provavelmente só uma miragem que um dia ele havia visto. Ele prometeu ajudá-la, mas ela nunca aparecia — sempre muito ocupada com o grupo das jasmines, margaridas, ou sabe-se o quê? Eles eram tão diferentes. "Scarlet?" Ele repetiu, com o levantar de sobrancelha, e observando o corpo dela se fechar ao falar da outra. Matteo não era do tipo que gostava de se meter no assunto dos outros, mas o jeito que Lina agia ao nome da outra lhe parecia... estranho. Normalmente, Scarlett não era uma pessoa muito... agradável, mas o que ele via não era desprezo. Era um certo tipo de agitação diferente. "Parece ter sido agradável, Lina. Bem, a gente certamente vai se ver por ai."
ENCERRADO ( @khdpontos )
Movimentou a cabeça no mesmo ritmo em que as palavras saíam dos lábios de Matteo, os olhos levemente arregalados devido ao teor da frase, mas logo a expressão se desmanchou nos lábios curvados, segurando uma risada. Achou engraçado a forma como ele tinha escolhido uma palavra não ofensiva, somente por ser ela a sua interlocutora, talvez imaginasse que Lina se dissolveria em um monte de açúcar ao escutar um palavrão. "Acho que no hospital você teria ainda mais tempo livre, não? Ia ficar completamente sem treinar e tudo..." Ao mencionar o treino, simulou um movimento de musculação, como se flexionasse um halter.
"Um duelo? Com facas? Meu Deus..." Ficou imaginando a cena em sua mente e ficou alguns segundos em silêncio, a cabeça levemente inclinada enquanto imaginava Matteo duelando como um espadachim. "Fico feliz que não tenha sido nada grave e, ah, eu fui com...com a Scarlet." A mudança de expressão foi evidente, ao mencionar a ruiva as sobrancelhas se curvaram e os braços se cruzaram. "Nós tivemos que tomar um chá e jantar com a senhora Castellani, ela tinha o pingente da Julieta e...Bom, foi bem agradável conhecer a senhorinha, ela não nos chamou para um duelo nem nada disso." Apesar das palavras doces, sua expressão era contraditória, ficava séria e defensiva toda vez que recordava do beijo que trocara com a menina malvada de Khadel.
"Uau, Aleksander, bravo," ele disse batendo palmas lentamente, sem ligar se ele estava chamando atenção das pessoas ao redor deles. Não era nenhuma novidade ver Aleksander e Matteo se alfinetando pela cidade — nunca foi. As coisas pioraram quando Matteo começou a sair com Olivia, mas qualquer coisa era motivo para Aleksander implicar com ele. Porém, ele não era mais o pequeno e desengonçado Matteo, e ele não precisava ficar escutando aquela palhaçada. "Não sabia que você fazia um ótimo papel de palhaço," ele adicionou, com metade do seus lábios curvados. "Eu não estou tentando converncer ninguém a nada. Você por outro lado... parece ter algo há provar," deu de ombros. Ele sabia que tudo que Aleksander queria dele, como sempre, era uma reação. Qualquer coisa para lhe tirar do sério.
Quando ele tirou a encharpe da mochila, Matteo não se assombrou com o fato dele ainda ter o tecido, mas com o fato dele estar carregando por ai. "— fofo, Aleksander," ele olhou, tentando imitar algum olhar de carinho, mas seu rosto se contorceu em algo mais parecido com uma careta. Não conseguia fingir que tinha qualquer afeto por Aleksander. O asco não podia ser só quando tivesse qualquer sentimento romântico, porque ele sentia um grande asco do homem em sua frente. Irritante. Narcissista. Chato para um caralho. Nem sabia onde ele queria chegar. "Quer uma cueca para acompanhar essa obsessão do encharpe?"
"Eu nunca falei que era hétero." Ele nunca havia dito nada sobre a sua sexualidade e isso era causa de especulação em Khadel. Toda Khadel falava sobre isso. Era engraçado que ele falava como se não soubesse disso. Matteo nunca havia dado muita atenção para isso, porque para ele não queria nem um, nem outro. "Ótimo. Então o que você está tentando provar com essa conversa?" Ele levantou uma sobrancelha. Aleksander agora estava apenas atrapalhando o seu dia.
Alek arqueou uma sobrancelha diante a aproximação de Matteo, o canto da boca puxando um meio sorriso que misturava desprezo e diversão, como quem assiste um cãozinho bravo tentando morder a barra da calça de alguém. Ele escutou as palavras do outro com uma paciência quase teatral, como se cada provocação fosse um convite para afiar ainda mais os próprios comentários. "Não te acusei de se resumir à Olivia. Só mencionei porque, pelo visto, você não se resume nem a ela, nem a essa fachada toda de príncipe empalhado que carrega por aí." Ele deu de ombros, voltando a bater no saco de pancadas com a mão enfaixada, o som do impacto ecoando antes da sua voz completar o pensamento. "Deve ser difícil viver a vida tentando convencer todo mundo, inclusive você mesmo, de que não sente absolutamente nada."
Ele se virou então, encarando Matteo com uma calma provocadora, como se já tivesse vencido a briga antes dela começar. "E relaxa. Eu não vou contar pra ninguém. Não porque tenho pena de você mas porque não preciso." O sorriso que surgiu em seus lábios agora era mais afiado. "Você já tá se destruindo muito bem sozinho." Alek deu dois passos lentos em direção ao banco onde havia deixado sua mochila, puxou de dentro uma peça de tecido clara e a ergueu com dois dedos. A seda caiu delicadamente, revelando a echarpe que Matteo havia jogado durante a 'dança particular' para Aleksander. Alek balançou o lenço, deixando-o flutuar por um segundo antes de jogá-lo de volta na mochila com desdém. "Bonito presente. Não costumo guardar lembrancinhas, mas esse foi especial." Piscou, debochado. Se Matteo estava sendo descuidado deixando souvenirs por aí, sabe-se lá quais outras pistas ele estava deixando para trás? Alek sabia que era só questão de tempo até aquela fachada de bom moço cair por terra, e mal podia esperar para assistir de camarote.
Mas então Matteo deu aquele passo para frente, como se quisesse provar alguma coisa. Como se tamanho ou força importassem quando se está tão desesperado para manter uma fachada. Alek não recuou nenhum centímetro. "Ah, então é isso?" Ele soprou uma risada, zombateiro. "Tá bravo porque me beijou e gostou? Ou porque gostou e agora não sabe onde enfiar essa pose de hétero glorificado?" Abaixou a voz o suficiente como quem confidenciava algo perigoso. "Aposto que ninguém nunca tinha te provocado o suficiente para fazer perder o controle. Pois bem. Fico feliz de ter sido o primeiro." Se afastou com um sorriso convencido no rosto, dando lentos passos para trás até voltar a atenção ao saco de pancadas. "E não se preocupa, Matteo. Eu preferiria beber ácido sulfúrico a te beijar de novo."
igreja de khadel com @eusouscarlet
Matteo não ia há igreja todos os domingos, apenas em algums. Por insistência de sua mãe, aquele era um deles. Depois da festa das máscaras, talvez ele precisasse pedir perdão pelos seus pecados. Matteo nunca foi altamente religioso. Também nunca havia visto nada de errado em homens ficando com homens. Porém, nunca havia sido o caso com ele. E, como se a sua situação não pudesse piorar, um dos homens que ele havia beijado era a pior pessoa do mundo. Foi uma grande surpresa que Matteo havia sentado o sermão inteiro e não havia sido enviado direto para o inferno. Se não por ter ficado com homens, pelas mentiras envolvidas naquela situação. No fim do sermão, um rosto familiar surpreendente entrou em seu campo de visão, e pedindo licença para sua mãe, ele foi até a ruiva. "Pensei que você derretia entrando na igreja," disse, apesar da falta de intimidade entre eles. Depois de dois rituais e uma maldita maldição que os entrelaçava, talvez ele acreditasse que pudessem ser um pouco informais.
As repercussões das suas ações no baile eram coisas que ele ainda preferia não lidar. Por isso, continuava seguindo friamente a sua rotina, como se nada tivesse acontecido. E, para todos os efeitos, não havia acontecido. Ele não se arrependia por ter deixado se levar, e ter feito coisas que nunca teria feito se não fosse por aquela máscara. O problema era com quem ele fez essas coisas. Ele esperava que, mesmo por trás de uma máscara, ele reconheceria Aleksander há distância, mas ele não esperava um feitiço. E, para piorar tudo, o resultado do ritual havia sido apenas decepcionante. Eles não estavam nada mais perto de descobriram seus passados. Entrou na academia como sempre, escutando alguns dos burburinhos que sempre o acompanhavam. Desde a maldição, eles haviam se tornado cada vez pior.
"Não sabia que você agora me esperava aqui," comentou com sarcasmo, decidindo. "Essa é a sua melhor cartada, Aleks," Matteo perguntou, com um tom sarcástico. Estava claro que, pelo seu tom, ele estava atacando. Não iria ficar na defensiva. Ele não havia feito nada de errado — se dispensasse o fato que havia beijado Aleks. E, por Deus, quem havia começado aquela idiotice havia sido ele mesmo. Matteo ainda o acharia um babaca idiota prepotente sem Olivia, mas ele não era o culpado de que Olivia não queria algo com Aleks. "A minha vida não se resume a Olivia, Aleks — talvez você não saiba o que é isso," ele replicou, irritado. As palavras saiam mais ácidas do que gostariam, mas Alek testava sua paciência. "Conte para todo mundo, Alek. Quem vai acreditar que de todas as opções que eu tenho," e ele tinha muitas, "eu escolhir ficar com quem eu mais odeio?" Alek deveria saber que era idiotice se ele não tivesse uma prova forte. Ainda mais vindo de quem pegava qualquer um com um pulso. Matteo tinha a reputação de não ficar com ninguém, então além de um punhado de pessoas, não tinha muitas pessoas que haviam vistos esse seu lado. "Com medo por querer me beijar de novo, Aleks?" Matteo não era tão mais alto que Alek, mas avançava em sua direção como se fosse, em desafio. De uma coisa tinha certeza, podia quebrar Aleksander no meio
starter para @thematteobianchi local: academia na casa comune
O som metálico dos pesos sendo reposicionados e o rangido abafado das máquinas preenchiam o ar com uma familiaridade quase reconfortante. Alek nunca frequentava a academia por necessidade física - seu corpo era treinado com disciplina muito antes de qualquer preocupação estética -, mas o esforço repetitivo e a solitude do ambiente ajudavam a organizar os pensamentos. E havia muito o que organizar.
O ritual e o baile de máscaras ainda deixava seus rastros como feridas abertas demais para serem ignoradas. Como pôde ter beijado Olivia? E pior ainda, Matteo? Como pôde ser tão cego ao ponto de não reconhecer e, ainda por cima, desejar uma das pessoas que mais desprezava na vida? Queria achar o responsável por jogar aquele maldito feitiço e o afogar nas águas da Cascata de Jack.
Alek ajustava as faixas ao redor dos punhos, se preparando para treinar no saco de pancadas, quando ouviu passos atrás de si. Matteo. Claro que era ele. Como se o universo estivesse tentando rir da sua cara mais uma vez. "Olha só quem apareceu.." Comentou com desdém, sem se preocupar em esconder o tom ácido da voz. Cruzou os braços, o corpo ainda suado do aquecimento, os olhos escaneando Matteo com aquela típica expressão de julgamento entediado. "Louis, certo?" O nome saiu como veneno, como se ainda estivesse provando o gosto amargo daquela noite.
Deu um passo em direção ao saco de pancadas, mas manteve os olhos em Matteo, quase como se ele fosse o alvo que acertaria de socos. "Me diz, Matteo.." Disse por fim, mais baixo, o tom carregado de ironia calculada. "O que será que Olivia pensaria, hein? Ou qualquer outra pessoa, na verdade. Se soubesse que o príncipe crossfiteiro anda se esfregando em completos estranhos no meio de um salão?" Alek jogou um direito no saco de pancadas, o impacto seco cortando o silêncio por um instante. Por mais que odiasse o fato de ter beijado Matteo, Alek se alegrava pela posição em que estava. Sabia que, ali entre os dois, não era ele quem guardava um segredo.
@khdpontos
Matteo arqueou uma sobrancelha. Se aquele era o caso, se ela não se lembrava que ele existia, por que ela parecia se importar tanto com ele e sua opinião? Ou por que sequer estavam tendo aquela conversa? Ele sentia que o ponto de tudo havia passado por cima da sua cabeça e agora ele estava tentando montar um quebra-cabeça que as pessoas não se encaixavam. Matteo era do tipo que tinha uma quantidade muito limitada de atenção para dar, e agora ele só sentia que estava perdendo atenção desnecessariamente naquela conversa. "Eu não falei que você está forçando isso, falei?" Perguntou, falhando para ver onde ele tinha dito isso. Talvez Matteo fosse muito literal e não conseguisse fazer conclusões que não fossem muito óbvias, e talvez fosse isso que ela estivesse fazendo ─ tirando conclusões. Porém, as conclusões eram baseadas nas experiências de vida de cada um e, Matteo e Helena eram muito diferentes. Não esperava que eles teriam o mesmo ponto de vista. "O ponto todo de você acreditar nisso é que você está... tentando demais," Matteo se sentia sufocado. Será que ela não conseguia ver isso? Ele não era a pessoa que sentava e falava sobre milhões de assuntos por segundo, ou que abria seus sentimentos para qualquer pessoa. Tinham coisas que nem escrevia em seus diários. "E talvez você tenha razão, e ninguém seja inacessível, mas não necessariamente todo mundo tem o privilégio de acessar todo mundo, sabe?" A maioria das pessoas não conseguia ver quem era o Matteo de verdade ─ era assim que ele gostava, era assim que ele se sentia confortável. "E como você sabe disso? Nenhum de nós amou alguém." Havia escutado com atenção, mas não aguentou e comentou. Afinal, para ele não tinha uma maneira certa e uma errada, mas existia milhões de possibilidades de como eles poderiam se sentir ─ nenhum sentimento era realmente igual ao outr. "Você pode ler milhões de histórias de amor, e elas vão ser diferentes." Deu de ombros, pedindo um espresso. Ainda não tinha fome. "A forma em como você tentou me conhecer me deixa... me deixa encurralado. Eu não gosto de me sentir forçado. E foi assim que eu me senti." Ela não queria a verdade? Era essa a realidade. Para Matteo, talvez Helena fosse demais. Ou talvez eles apenas tivessem começado tudo com o pé errado. "Não tem pelo que você pedir desculpas," assim como ele não achava que precisava pedir desculpas. Eles apenas estavam sendo quem eles eram e ele preferia aquilo do quer ser forçado a ser legal. E, bem, se ela tivesse problema com isso, não tinha muito mais que ele poderia fazer.
FLASHBACK
Helena inclinou a cabeça, observando Matteo enquanto ele falava. Primeiro, ela arqueou uma sobrancelha. Depois, ela deixou escapar uma risada baixa, sem humor sair dos lábios incredula. "Devo me sentir honrada ou ofendida?" O olhar dela deslizou pelo rosto dele, avaliando. Matteo falava como se não tivesse um pingo de interesse, como se realmente não se importasse. Mas Helena já havia lidado com esse tipo de defesa antes. Afinal, ela mesma já tinha usado. “Bem, não posso dizer que não te entendo.” Sua voz saiu calma, sem qualquer traço de irritação. “Não somos próximos, nem nada, mas… sei lá.” Ela tentou encontrar as palavras certas. Não era uma garotinha implorando por atenção, mas também não era ingênua. Sabia que a chance de tê-lo ao seu lado, caso ambos escolhessem, existia.
Ela suspirou, apoiando o queixo na mão enquanto um sorriso discreto brincava em seus lábios. “Matteo, eu sou atriz. Vivo cercada por homens que acham que são a coisa mais inacessível do mundo. Sabe qual é a parte engraçada?” Seus olhos brilharam com uma pitada de provocação, mas ao mesmo tempo com uma sinceridade rara nos dias atuais. “Ninguém é completamente inacessível.” Ela se recostou na cadeira, cruzando as pernas com a elegância automática de alguém que passou anos sendo treinada para brilhar sob os holofotes. “Mas relaxa,” continuou, como se estivesse apenas comentando sobre o tempo. “Você realmente acha que eu estou tentando forçar alguma narrativa de alma gêmea? Eu mal te conheço. Honestamente? Até antes de tudo acontecer eu nem lembrava de você.” Seu tom não era cruel, apenas factual. Ela deu um leve dar de ombros antes de soltar um suspiro suave. “O amor não é mágico como nos filmes. Ele não acontece em um instante perfeito, com trilha sonora ao fundo.” Seus dedos deslizaram distraidamente pelo cardápio sobre a mesa. “O amor é uma construção. Uma escolha diária. Porque, no fim, se você não escolhe todo dia ficar com alguém, como diabos vai conseguir aturar essa pessoa? Eu quero poder escolher amar minha alma gêmea. Quero olhar para a pessoa e sentir orgulho, carinho, desejo de estar junto, de voltar de viagem e...” ela novamente suspirou desviando o olhar para o cardápio, ver o amor acontecer era lindo, mas nunca senti-lo? Isso a agoniava "Só queria poder te conhecer por trás de tudo isso que você criou... Mas entendo seu ponto. Desculpe por qualquer coisa"